Carta Aberta em Defesa do Livro, da Leitura, da Literatura e das Bibliotecas

Carta Aberta em Defesa do Livro, da Leitura, da Literatura e das Bibliotecas
A importância deste abaixo-assinado
CARTA ABERTA EM DEFESA DO LIVRO, DA LEITURA, DA LITERATURA E DAS BIBLIOTECAS
AOS CANDIDATOS E CANDIDATAS DO CAMPO DEMOCRÁTICO AO GOVERNO FEDERAL, AOS GOVERNOS ESTADUAIS, AO CONGRESSO NACIONAL E ASSEMBLÉIAS ESTADUAIS E À SOCIEDADE BRASILEIRA
Nos últimos anos, vivemos uma forte ofensiva contra o livro, a leitura, a literatura e as bibliotecas. Destacamos: o abandono das políticas públicas federais para o setor, com a desmobilização efetiva do Plano Nacional do Livro e Leitura/PNLL; a não efetivação da Lei 12.244/2010, pela universalização das bibliotecas escolares; e a não implantação da Lei 13.696/2018 que estabelece a Política Nacional de Leitura e Escrita/PNLE
Ao contrário do incentivo necessário, vimos o desaparecimento dos parcos recursos para a área, a tentativa de taxação do livro atingindo toda a cadeia produtiva, distributiva e consumidora, o abandono de programas específicos para as bibliotecas públicas, comunitárias, prisionais e escolares e a proliferação de um discurso despolitizante e superficial sobre a tecnologia do livro e o público leitor. A despeito dos ataques, nós resistimos, lemos, escrevemos, traduzimos, ilustramos, mediamos leituras, diminuímos a distância entre pessoas e livros.
O Brasil tem um potencial imenso para vir a ser um país que garante o direito à leitura para todos e todas. Periodicamente esse potencial é desperdiçado pela falta de incentivo e interrupção de políticas públicas que deveriam ser de Estado, permanentes.
A anomalia dos últimos anos, interrompendo um ciclo de crescimento e afirmação na formação de leitores/as, se intensificou durante a pandemia da covid-19. Mas, novamente e em situações limítrofes, os livros em seus diversos formatos mostraram que são refúgio e conforto. E não por acaso.
O acesso à leitura e ao livro são direitos humanos inalienáveis e, como tais, cumprem função essencial para que se produza reflexão. São também fundamentais para o fortalecimento da pluralidade de ideias e de desenvolvimento sustentável. Sabemos disto e agimos para que o desmonte e o negacionismo dos últimos anos não abalassem a vontade e a resiliência da sociedade e de todos aqueles que atuam na cadeia do livro, da leitura, da literatura e das bibliotecas.
Além disso, para nós, seguindo formulação do mestre Antonio Candido, a efabulação é uma capacidade humana ampla e irrestrita, que deve ser valorizada e cultivada em todas as sociedades. Nesse sentido, as tentativas despolitizadoras de excluir o livro da relação de necessidades básicas humanas explicitam o descompasso e a falta total de compromisso com a dignidade e a disseminação de conhecimento em nossa sociedade. Se, por um lado, a vida demanda a urgência da comida no prato; por outro, a utopia e a plena experiência de vida demandam a emergência do livro na mão. Nesse sentido, as ofensivas autoritárias devem ser rechaçadas não só pelo conjunto da área, mas por toda a sociedade em explícito e alto bom tom frente à censura, garantindo-se o direito de liberdade de expressão nas obras e suas aquisições para acervos. O livre saber e circulação de ideias são propulsores de uma sociedade democrática e justa
Enfatizamos, nesse contexto, as iniciativas de editoras independentes e comprometidas, das livrarias de rua que surgiram de forma autônoma - assim como diversos espaços privados de arte e educação que atuam com a intenção de fomento ao direito ao livro e à leitura. Mantidos pelo esforço contínuo, todos eles se somaram às escolas e bibliotecas de acesso público que seguem na resistência e na construção de uma sociedade leitora. Foi intensa a dedicação de mediadores/as de leitura para que não faltasse literatura nas áreas mais extremas e profundas do nosso país.
O ano de 2022 é de relevância no cenário nacional e nele poderemos mudar o rumo destrutivo que o atual governo imprime à cultura e à educação, entre tantos outros atentados à democracia. Por essa razão, escritores/as, editores/as, livreiros/as, tradutores/as, ilustradores/as, bibliotecários/as, produtores/as e incentivadores/as do livro e da leitura nas plataformas digitais, professores/as e mediadores/as de leitura, resolveram se reunir para apresentar dez pontos que consideram sintetizar o acúmulo de ideias formuladas por profissionais e ativistas para o conjunto da sociedade, tanto aos/às que pleiteiam cargos e representação pública, quanto ao empresariado nacional. Nesses dez pontos prioritários para a retomada das políticas públicas para a formação de leitores/as, queremos potencializar as discussões públicas com a sociedade brasileira e com os/as que reivindicam um posto de poder nos governos e parlamentos em outubro.
Comida no prato e livro na mão! 10 Propostas Pela Defesa do Livro e ao Direito à Leitura no Brasil:
1. Regulamentar e implantar nos primeiros dias do novo governo a Lei 13.696/2018 que institui a Política Nacional de Leitura e Escrita/PNLE. Para tanto, é preciso iniciar imediatamente os trabalhos para construção do novo Plano Nacional do Livro e Leitura/PNLL em seu formato decenal no primeiro semestre de 2023, obedecendo o determinado pela lei em suas diretrizes e objetivos, assim como as regras de sua elaboração, garantindo a representatividade da sociedade civil e a criação de um fundo financeiro e condicionalidades para a sua aplicação em estados e municípios;
2. A partir da esfera federal buscar o diálogo para ampliação do grande pacto social em torno da leitura e expresso no PNLL. Isto significa ampliar e incentivar a criação e a implantação de planos estaduais, distrital e municipais do livro, da leitura, da literatura e das bibliotecas, adaptando as grandes diretrizes nacionais à multidiversa territorialidade e características culturais do nosso país, bem como através do incentivo para a instituição de mecanismos de participação e controle social, e transparência na efetivação das políticas públicas para a área;
3. Criar, restabelecer e financiar ainda em 2023 programas e ações no âmbito do pacto federativo para priorizar investimentos de criação, modernização e sustentabilidade, principalmente no que tange aos recursos humanos, em bibliotecas vivas de acesso público - públicas, escolares, prisionais e comunitárias. Esta medida, necessária a um país percorrido por inúmeras vulnerabilidades e com uma população com baixo poder aquisitivo, é instrumento imprescindível para democratizar o acesso ao livro e aos diversos suportes à leitura, de forma a ampliar os acervos físicos e digitais e as condições de acessibilidade, desde a primeiríssima infância com recursos para qualificar esta pauta;
4. A mediação da leitura é fundamental para a formação de novos leitores/as. Reivindicamos programas e projetos para estimular, ampliar e fomentar a formação de mediadores/as e promotores de leitura em plataformas digitais, bem como fortalecer ações de estímulo à leitura e às tradições orais e de oralitura,. Para tanto, é urgente investir na formação continuada em práticas de escrita e leitura para professores/as, bibliotecários/as, agentes de leitura, contadores/as de histórias, entre outros/as agentes educativos/as, culturais e sociais, e garantir que tenham a oportunidade de registrar seus caminhos e práticas em seus espaços de atuação;
5. Um país de leitores/as precisa ter uma economia do livro forte e independente, insubmissa às conveniências editoriais e financeiras dos grandes centros produtores internacionais, bem como resistente a movimentos de caráter censórios. É preciso promover a bibliodiversidade e dialogar com o mundo editorial de forma ativa. Medidas de incentivo e regulação do mercado editorial e regularização de pareceristas nas decisões sobre conteúdos editoriais didáticos, além do impulsionamento à criação e viabilidade de livrarias, editoras, feiras e festas de livros e eventos literários são consideradas fundamentais para o desenvolvimento da produção intelectual e para o fortalecimento da economia e do poder de influência cultural nacional;
6. Promover as literaturas, as humanidades, as ciências, as diferentes formas de saber e produção de conhecimentos. Nesse sentido, é preciso garantir o fomento aos processos de criação, formação, pesquisa, difusão e intercâmbio literário e científico em território nacional e no exterior, para autores/as e escritores/as, por meio de prêmios, intercâmbios e bolsas, entre outros mecanismos, inclusive a participação ativa em feiras de livros internacionais;
7. O setor editorial e livreiro se caracteriza por constantes mudanças e inovações desde a produção da escrita até os processos de edição, distribuição e mediação. Com a aceleração digital e novos suportes virtuais e formas de escrever e ler, são fundamentais as ações cooperadas dos governos, universidades e centros de pesquisa para promover a formação profissional no âmbito das cadeias criativa e produtiva do livro e mediadora da leitura, por meio de ações de qualificação e capacitação sistemáticas e contínuas;
8. É igualmente importante o incentivo às pesquisas, estudos e o estabelecimento de indicadores relativos ao livro, à leitura, à escrita, à literatura e às bibliotecas, com vistas a fomentar a produção de conhecimento e de estatísticas como instrumentos de avaliação e qualificação das políticas públicas do setor, bem como fomentar publicações com a pluralidade idiomática dos povos originários;
9. Garantir que todos os programas, ações e seus respectivos gestores tenham como referência um olhar antirracista e decolonial, conforme previsto nas leis 11.645/2008 e 10.639/2003. Isso implica pautar-se pelo combate ao racismo e aos preconceitos de toda ordem, valorizando a pluralidade em todos os seus âmbitos. A acessibilidade deve ser ampla e irrestrita como diretriz fundamental para o justo enfrentamento de problemas estruturais historicamente persistentes;
10. Garantir que os programas e projetos, assim como a elaboração do PNLL decenal, seja pautada pela atenção ao acesso às tecnologias virtuais, notadamente o acesso livre, amplo e irrestrito à Internet. Nesta perspectiva de inclusão digital, articular as ações de formação de leitores/as com programas de acesso digital para faixas marginalizadas da população e desenvolvidos por (outros) diferentes ministérios, governos estaduais e municipais e empresas públicas ou privadas.
ASSINAM:
Adalberto Ribeiro
Alessandra Roscoe
Alessandra Vaz
Alex França Melo
Alexandre Almeida Oshiro
Alexandre Martins Fontes
Ana Carolina Carvalho
Ana Cristina Araújo ayer de Oliveira
Ana Lima Cecílio
Ana Paula Sarmento Lopes Leme
André Gravatá
André Luiz Gomes de Araujo
Andréa de Anunciação Polo Tavares
Andrea del Fuego
Andréa Luize
Andreia de Almeida
Andressa Nogueira Teles D'Adamo
Angelina Moreira de Souza
Anielizabeth
Antonio Correa Neto
Antonio Freitas
Associação Quatro Cinco UM
Baba Silvio Ribeiro
Beatriz Myrrha
Bel Santos Mayer
Belisa Monteiro
Beto Silva
Bia Abramo
Bianca Santana
Bruno José Daniel Filho
Bruno Souza (Bruninho)
Bruno Xavier
Camila Davanço Bronizaski
Camila Feltre
Camilla Dias
Carla Mauch
Carlos Lotto
Carol Glycerio
Casa Tombada
Celice Oliveira
Cibele Maria Silva de Lima
Claudia Trigo
Clemência Aparecida Canoas de Andrade
Comunidade Educativa CEDAC
Cooperativismo Solidário, Brasília/DF
Cinthia Baptista Kriemler
Cristiane Fernandes Tavares
Cristiane Paulani
Cristiane Pelissari
Cristiane Rogerio
Cristina Aparecida Reis Figueira
Cristina Serra
Daniela Gonçalves
Daniele Andrade da Costa
Débora Araújo
Denise Guilherme Viotto
Dianne Cristine Rodrigues de Melo
Dolores Prades
Douglas Borges Nunes
Edson José da Silva
Eleison Leite
Eliane de Christo
Eliane Debus
Emerson Carlos Ferraz Gonçalves
Fabio Cordeiro
Fabiane Secches
Fernando Arosa
Fernando Baldraia
Fernando Neves
Flavia Santos
Flávio Augusto Santos
Flavio Carrança
Flavio Dias Marin
Flavio Morgado
Francisco Eduardo Bodião
Fundação Itaú Social
Gabriela Gambi
Geo Britto
Gian Nunes de Oliveira
Gilda Carvalho
Giovanna Carvalho Sant'Ana
Giselda Pereira Rodrigues
Giuliano Tierno de Siqueira
Gledson Vinícius
Guilherme Assis de Almeida
Guilherme Freitas
Gustavo Ribeiro de Souza
Haroldo Sereza
Heloisa Pires Lima
Hosana de Moraes Santos
Instituto Superior de Educação Vera Cruz
Janaina França de Melo
Janine Durand
Jenice Pizão
João Coelho
João Correia Filho
José Castilho
José Roger Soares de Mello
Jose Saboia dos Santos
Joselicio Freitas dos Santos Junior
Josenilda Maria da Silva
Juliana Borges
Juliana dos Santos Piauí
Juliana Moretti Lousada
Julie Derrico
Katia Fabri
Kelis Louzada
Kelly Guimarães
Kelly Guimarães
Ketlin Santos
Kim Doria
Klelber Guimarães de Sousa
Ladailza Gonçalves Teles
Lenice Bueno da Silva
Leonardo Antunes Cunha
Leonardo Polo Tavarea
Leoni
Lilia Schwarcz
Lilian Damasceno Marques
LiteraSampa
Lizandra Magon de Almeida
Lorena Polo
Luciana Gerbovic
Luciana Gomes do Nascimento
Luciano Mendes de Jesus
Lucila Bonina Teixeira Simões
Luiz Fernando Costa de Lurdes
Luiz Schwarcz
Luiza Bonina
Lizandra M. Almeida
Mafuane Oliveira
Magno Rodrigues Faria
Maira Lima Figueira
Maitê Freitas
Marcela Castro
Marcelo Dino Fraccaro
Marcos Marciolino
Maraísa Ribeiro
Márcia Licá
Marcia Wada
Maria Carol Casati
Marina Colasanti
Maria de Lourdes Mello Martins
Maria do Socorro Nascimento
Maria Elena Gouvea
Maria Elena Villar e Villar
Maria Fátima da Fonseca
Maria França de Melo
Maria Giuseppa Mariantonia Chippari
Maria Valéria Rezende
Mariana S.S. Bueno
Marilena Nakano
Marília Pirilo
Marilu Dumont
Marisa Batista Reis
Marli de Fatima Aguiar
Marli Vizim
Marta Meire Mariano
Marta Suplicy
Monica Correia Baptista
Monica Lizardo
Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas
Murilo Tomiazi Misael
Neide Almeida
Nelida Capela
Nicole Aun
Nicole Cordery
Oswaldo Cavalieri
Patricia Cristina Andrade Pereira
Patrícia Diaz
Patricia Souza
Patrícia Zaidan
Paula Lisboa
Paulo Bueno
Paulo Pires
Paulo Werneck
Pedro Gerolimich
Penélope Martins
Priscila de Giovani
Priscilla Rodrigues Veneruci
Raiana Ribeiro
Rafaela Deiab
Regina Azevedo Miguel
Reinaldo da Silva Cardoso Junior
Rejane De Musis
Renata Costa
Renata Grinfeld
Renata Pereira Laurentino de Melo.
Renata Soares de Oliveira
Reynaldo Damazio
Ricardo Queiroz
Ricardo Molina
Ricardo Teperman
Rodison Roberto Santos
Rodrigo Casarin
Roger Mello
Rosália Guedes
Rosália Meirelles
Rosaly Senra
Rosana Banharoli
Rosane Fagotti Voss
Rosangela Rondon Rossi
Rubens Donisete Viana
Rubens Donisete Viana
Ruivo Lopes
Sandra Regina de Souza
Sávia Dumont
Selma Maria de Almeida
Sergio Narciso
Sergio Reis Alves
Stella Maris Rezende
Silvia C. Machado
Silvia Helena Passarelli
Sol de Mendonça
Stefany Vargas Adib
Sueli Regina Marcondes Motta
Suzana da Costa Borges Longo
Suzete Nunes
Tainã Bispo
Tamlyn Ghannam da Veiga
Tarso Genro
Thiago Gallo
Thomas Andrada
Val Rocha
Valéria Pergentino
Vandelei Lopes Faria
Veridiana Negrini
Vinicius Carlos da Silva
Viviane de Barros Pastoreli
Viviane Ferraretto da Silva Pires
Volnei Cunha Canônica
Wagner de Lima Alonso
Wagner Santana
Wellington C. Ferraz
Zilmara Soares de Brito
Zoara Failla