Brazil Iron: poluição e destruição em Piatã (Bahia, Brasil)

Brazil Iron: poluição e destruição em Piatã (Bahia, Brasil)

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Eduardo Mendes da Silva criou este abaixo-assinado para pressionar Carta aberta ao Príncipe George

Ref.: Carta aberta ao honrado Príncipe George proposta por G.M. Gomes


Caro Pequeno Príncipe George,

Por ocasião do vosso 8º aniversário de herdeiro da Coroa, há algumas semanas, desejamos enviar-lhe as nossas felicitações e celebrar esta data juntamente com a Família Real Britânica!!! E nós, que adoramos os contos de fadas, gostaríamos de lhe enviar um presente. Caro menino, desejamos-lhe um belo mundo para reinar. E no vosso aniversário trazemos-lhe notícias do reinado que a vossa coroa ajudou a espalhar para a periferia do mundo. Não sabemos se Vossa Alteza já teve alguma aula de Geografia, mas provavelmente esta não lhe dirá onde fica a Chapada Diamantina, um dos lugares mais bonitos do planeta, cheio de diferentes ecossistemas e lugares encantados do estado da Bahia (Brasil). Mas o poder do Império Britânico chegou até aqui. Há uma empresa mineira britânica, a Brazil Iron, que tem sido famosa...ou melhor, infame, olhando para o seu descuido no que diz respeito à proteção ambiental. 


Talvez a sua avó lhe tenha dito que a Inglaterra é uma referência mundial na regulamentação das emissões de gases tóxicos. Desde os anos 50, o país iniciou uma política de redução da queima de combustíveis fósseis, considerada como pioneira no planeta. A medida foi desencadeada após o Grande Fumo, quando um denso nevoeiro em 1952 causou a morte de mais de cinco mil londrinos. 


Sabia que cada vez que a sua irmã, a pequena princesa Charlotte aparece em público ela movimenta mais de 1,5 mil milhões de dólares no mercado da moda? Mas a moda ecológica não tem se refletido em todas as empresas britânicas. A revolução industrial e o capitalismo moderno que aqui chegou à Bahia, onde se situa a Chapada Diamantina, é onde a empresa britânica Brazil Iron espalha terror e poluição nossas comunidades quilombolas, comunidades tradicionais resilientes que conseguiram sobreviver apesar da escravatura e pobreza que lhes foram submetidas ao longo de décadas. Guy Saxton, cidadão britânico, é o cofundador e presidente da Brazil Iron e também um diretor não-executivo de uma empresa privada de conservação, a EBCF Amazon Protection, além de acionista e diretor de uma empresa de investimento imobiliário. Perguntamo-nos como é que Saxton, que se preocupa com a proteção da Amazônia, permite um tal nível de degradação ambiental e de saúde no quintal e arredores da sua própria empresa em Piatã (Bahia, Brasil). As regras ambientais brasileiras são muito brandas com as chamadas "atividades produtivas", incluindo a mineração, mas uma empresa britânica, mesmo no estrangeiro, deve cumprir o seu compromisso para com a saúde pública, o ambiente e o bem-estar das pessoas que ocupam a região há décadas ou mesmo séculos. 


Há tanta poeira tóxica no ar que Adão e Eva estão a mudar-se para a cidade de Piatã. Os dois têm mais de 80 anos, e vivem na comunidade de Mocó, desde que nasceram, e abandonaram as suas casas e as suas vidas como agricultores devido ao impacto do pó e das partículas metálicas que as explosões deixam no ar todos os dias, onde a  Brasil Iron opera. Eles não conseguem respirar. E não são os únicos a fugir da fuligem inglesa. Muitas casas estão a cair com o impacto da exploração mineira. Segundo os líderes locais, numa audiência com o Ministério Público Ambiental de Lençóis, um município próximo, estima-se que mais de 30% dos residentes já abandonaram as suas casas, ou estão a pensar fazê-lo em breve. 


Para além da poeira, em junho deste ano, uma parte considerável dos residentes locais foi contaminada pela Covid-19. A suspeita é que o vírus tenha chegado aos trabalhadores mineiros, que durante toda a pandemia não reduziram a atividade mineradora. A intensidade é explicada pela explosão dos preços do ferro nas bolsas de valores. No meio do período pandêmico, o preço da matéria-prima subiu quase 30%, dando início a um novo super-ciclo de mercadorias. 


Joãozinho de cinco meses de idade entende bem os efeitos de tudo isso. Ele desenvolveu uma série de síndromes respiratórias graves e crises de pânico cada vez que ouve as sirenes e explosões que ocorrem nas minas da comunidade Bocaina, pois elas acontecem sem parar, 24h por dia. E embora o preço do ferro de Piatã possa atingir US$ 230,00 no mercado internacional, a mãe de João depende de programas de renda mínima para sustentar o pequeno, que é filho de algum trabalhador precário da mina, que já desapareceu no mundo novamente.


A líder comunitária Dandara teme pelo futuro de João e o de sua comunidade. Mesmo o plantio de hortaliças e café agroecológico foi comprometido, e a fonte de água que abastece a vila é imprópria para o consumo. "Não podemos ver o sol. A fumaça não nos deixa ver a luz do dia". E não podemos esperar que alguém veja o nosso lado no meio de tanta fuligem", pleiteia Dandara. A zona é uma área de recarga de água, fonte de vários rios importantes para a região semi-árida da Bahia, e nem mesmo este argumento tem impedido o avanço da mineração. Outras cinco empresas de mineração estão sendo instaladas no município sem diálogo com as comunidades, e sem apresentar um estudo de impacto ambiental. 


Como podemos deixar isso acontecer? Gostaríamos de mudar, mas Dandara diz que a associação já se aproximou das autoridades brasileiras, até mesmo membros do parlamento visitaram sua comunidade, mas até agora nenhuma ação foi tomada. Nosso governo pensa que são súditos britânicos e trata sua empresa com mais respeito do que nós. Pelo contrário, os residentes relatam situações de repressão e até mesmo ameaças de morte. Em 2020, uma manifestação pacífica dos residentes foi violentamente reprimida pela polícia. Os nomes neste texto foram todos alterados, porque o Império Britânico no sertão da Bahia gera medo. 


É isso mesmo, George. As pessoas aqui têm medo de sua bandeira. E você deve estar se perguntando porque lá, a empresa transnacional da Brazil Iron cumpre uma das legislações ambientais mais avançadas do planeta, na periferia do Brasil ela não assume nenhuma responsabilidade por sua atividade econômica. Em que o pequeno João é diferente de você, meu menino? Queremos que vocês dois tenham um futuro e um planeta para viver. 


Neste processo de neocolonização, nós lhe damos de presente a oportunidade de conhecer os impactos de seu patrimônio. Para que você recorra à Rainha, e aos seus súditos, para que nos deixem viver. Talvez a Rainha Elizabeth II, sua bisavó, que sabe o que é perder um ente querido para o câncer de pulmão, ficará comovida com a situação. Ou talvez ela se preocupe com o futuro de João e seus netos, porque a fumaça que as empresas britânicas continuam a emitir na periferia da capital logo fará um novo grande fedor de fumaça no nariz da princesa Charlotte. Talvez Bocaina e Mocó sejam a oportunidade para o povo britânico se colocar novamente como líderes planetários na luta contra os efeitos da mudança climática e deixar como legado para muitos Johns, Georges, Charlottes e Lilibetes alguma possibilidade de um futuro.

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