Disponibilidade de hormônios adequados para mulheres trans nas farmácias brasileiras.

Disponibilidade de hormônios adequados para mulheres trans nas farmácias brasileiras.

O mercado farmacológico brasileiro ainda é um campo que podemos ver muito sexismo, em qual se encontra testosterona (hormônio endógeno masculino) injetável com facilidade em forma de cipionato (Deposteron), mix de esteres (Durateston), undecanoato (Nebido) e gel, indicados na reposição de testosterona em homens que apresentam hipogonadismo primário e secundário, ou seja, o hormônio principal masculino as farmácias possuem. Enquanto mulheres pós-menopausa cessam com a produção endógena de seus hormônios, e em sua maioria das vezes deixado de lado, afetando sua vida sexual e social e sendo naturalizado, mesmo com a consciência que a expectativa de vida geral mundial vem aumentando, e não levando em conta que mulheres também possuem vida sexual.
Quando se volta em relação a mulheres sejam mulheres transexuais, travestis, mulheres intersexuais, mulheres com insuficiência ovariana, o mercado brasileiro possui apenas comprimidos para reposição hormonal, os quais são para uso oral, que demandam uma grande quantidade para atingir níveis plasmáticos para uma feminilização eficaz e segura para tais mulheres, se tornando uma via inviável, com aumento da probabilidade de formação de coágulos sanguíneos, e pelo preço inacessível para tal demanda. Para demais mulheres pós menopausa e histerectomizadas, geralmente se adéquam bem as baixas doses do estradiol disponível, uma vez que já passaram pela puberdade.
O atual tratamento para mulheres transexuais são a administração de um bloqueador de testosterona, seja um diurético poupador de potássio com efeito colateral de bloquear testosterona o qual o principio ativo é a espironolactona, ou uma progestina usada para castração química em homens, tumores na próstata ou hipersexualidade, que é a ciproterona. Ambos não foram feitos para usos em longos prazos além de afetarem o desenvolvimento de caracteres sexuais secundários femininos em pacientes trans femininas, reduzirem a libido a zero, inclusive a testosterona, e no caso da ciproterona o risco de prolactinoma na hipofise. Usados como meio de deixar a testosterona menos predominante no organismo da paciente e deixar o mínimo de estradiol fazer o efeito possível dentro das circunstâncias.
Concomitantemente o uso do estradiol em baixas doses para evitar o riscos de coágulos mas com uma quantidade suficiente que não deixe a paciente em uma menopausa induzida, que dificilmente chega a níveis plásmicos de puberdade, uma vez que é necessário a estimulação de uma "segunda puberdade" na paciente trans. Disponíveis no mercado brasileiro valerato de estradiol em comprimidos de 2mg, e estradiol bioidêntico em comprimidos de 1mg. Muitas vezes os repositores hormonais possuem uma progestina associada, o qual não é eficiente nem saudável para mulheres que estão a fazer um tratamento para longo período.
Muitas mulheres trans e travestis por falta de alternativas acabam usando e abusando de injetáveis anticoncepcionais com uma grande quantidade de progestina e uma pouca quantidade de estradiol. Injetável ou em comprimido, ambos oferecem um risco muito grande na saúde, relacionado a coágulos e suas complicações. Adicionando também que a expectativa de vida de uma mulher transexual é de 35 anos, que é metade da média nacional.
Aqui em anexo a tabela de estradiol via oral, com sua eficácia, riscos e referência.
A mulher transexual e travesti são vistas como um tipo de sub-mulher, pois em uma sociedade machista o termo "mulherzinha" ainda é visto como pejorativo e ofensivo, claramente inferiorizando a pessoa ao ser comparado a um comportamento tipicamente feminino. Partindo desse ponto, na visão de uma sociedade em que ser homem é um privilégio, e uma mulher trans é vista como um "homem" que abdicou de seus privilégios para ser uma "mulherzinha" então merece o pior. Reforça-se que o brasil é o pais que mais mata pessoas trans no mundo.
Esse abaixo assinado, é um pedido de compreensão e ajuda de laboratórios de fármacos, da necessidade de estradiol injetável puro, seja ele valerato de estradiol, quanto cipionato de estradiol, que já são comercializados nos EUA (Depo-estradiol, Delestrogen, e genéricos) assim como homens possuem acesso a sua testosterona. Tendo em vista a eficácia dos injetáveis e seu percentual praticamente nulo de efeitos colaterais e as grandes vantagens de sua administração em pessoas que precisam do medicamento, e para que reconheçam a deficiência desse nas farmácias brasileiras. Com o uso de estradiol injetável, não é necessário a administração de bloqueadores de testosterona, uma vez que os níveis séricos dos injetáveis conseguem suprimir a testosterona endógena das mulheres trans, sem os diversos efeitos colaterais causados pelos bloqueadores de testosterona.
Precisamos de apoio, em um país que não nos enxerga, nossas necessidades como indivíduos, em todos os setores da vida. A parte de saúde é um desses setores, mas de pouco a pouco obstáculos são vencidos, assim como a possibilidade de correção dos documentos civis por pessoas trans, um atributo já conquistado. É direito de igualdade a todos independente de gênero, sexualidade, classe social e etc. Assim como a testosterona é oferecida de diversas formas injetáveis e com custo acessível, nada mais justo do que o estradiol ser oferecido dentre as mesmas circunstâncias para mulheres, seja cis(não-trans) ou trans.
Os médicos que tratam de pessoas trans percebem a diversidade de opções para pessoas trans masculinas para com as trans femininas, se vendo limitados a uma hormonização mais arriscada e mais limitada dentro do que o mercado farmacológico pode oferecer.