Fim da intervenção na Comissão de Anistia

Fim da intervenção na Comissão de Anistia

Diversas vítimas da ditadura militar brasileira tiveram o pedido por reparação histórica negado pelo Ministério da Justiça, mesmo após decisão favorável da Comissão da Anistia.
Diante disso, nós, cidadãos, movimentos sociais e entidades ligadas aos direitos humanos pedimos o fim da desmobilização dos meios e condições para o trabalho da Comissão; cumprimento do prazo de 60 dias para executar a reparação ao anistiado; publicação das portarias com as decisões da Comissão; fim da interferência da Consultoria Jurídica da Advocacia Geral da União (Conjur/AGU) nas decisões da Comissão.
Nós, abaixo-assinados repudiamos a intervenção do Executivo na Comissão de Anistia, principalmente por significar um ataque a uma conquista da sociedade e dos trabalhadores, bem como de quem resistiu e deu a vida na luta contra a ditadura.
Leia o manifesto, na íntegra e confira a lista com as primeiras adesões:
Manifesto em Defesa da Comissão de Anistia
As entidades e personalidades que firmam este Manifesto, chamam a sociedade, através de suas organizações, a estar atenta e mobilizada em defesa da integridade e autonomia da Comissão de Anistia.
A Comissão de Anistia foi criada por força de Lei que regulamenta artigo 8o da Constituição (Lei de Anistia 10.559 de 10/11/2002), com o fim específico de julgar analisando, aprovando ou indeferindo os requerimentos daqueles que buscam reparação por terem sido vítimas dos regimes ditatoriais, a Comissão de Anistia se legitimou em 16 anos de trabalho, milhares de requerimentos apreciados, reconhecida por todas as instâncias do poder, notadamente o poder judiciário, a sociedade e as organizações que congregam os que foram presos e perseguidos políticos.
Recente Acórdão do Supremo Tribunal Federal (RE 553 de 31/8/2017), fundado no voto unânime dos onze ministros, em julgamento considerado histórico nos anais do Egrégio Tribunal, reitera que, em obediência à Lei, a Comissão de Anistia julga e o Executivo Cumpre.
Preocupa-nos sobremaneira que recentemente o Executivo não vem cumprindo com a Lei em detrimento das deliberações da Comissão de Anistia, fato reconhecido pelo próprio STF em seu histórico Acórdão. Entre esses fatos estão:
- Desmobilização dos meios e condições para o trabalho da Comissão;
- Não cumprimento do prazo de 60 dias para executar a reparação ao anistiado, deixando de publicar as portarias com as decisões da Comissão;
- Interferência da Conjur/AGU nas decisões da Comissão em aberto desrespeito à autonomia e credibilidade da Comissão de Anistia.
Corroborando com a gravidade desses fatos, houve o pedido de demissão do presidente da Comissão argumentando que a publicação de portarias, por órgão revisor não previsto em Lei, negando a condição de anistiado aprovada pelos Conselheiros da Comissão de Anistia, ferem a autonomia e limita a realização dos objetivos para os quais foi criada.
Diante desses fatos, repudiamos a intervenção do Executivo na Comissão de Anistia, principalmente por significar um ataque a uma conquista da sociedade e dos trabalhadores, bem como de quem resistiu e deu a vida na luta contra a ditadura.
Preocupa-nos que ainda hoje centenas de anistiandos aguardem julgamento, o pedido de perdão pelo Estado e sua almejada justiça.
Há que destacar o caráter de Estado da Comissão de Anistia, definida pela Medida Provisória No 2151/31/5/2001, para que suas atribuições se sobreponham aos interesses e demandas de governos, o que vemos agora comprometido com interferências externas.
Reiteramos a importância dos atos da Comissão de Anistia no marco da luta ampla pela da Memória, da Verdade, a Justiça e a Reparação, essenciais para a compreensão da história e consolidação da democracia e a construção de um país com soberania e socialmente justo.
São Paulo, 18 de setembro de 2017
Firmam o documento:
Instituições:
- Ordem dos Advogados do Brasil – OAB-12a Ribeirão Preto
- Comissão de Direitos Humanos do Sindicato dos Jornalistas de SP
- Plenária Paulista Anistia e Reparação
- ABAP – Associação Brasileira de Anistiados Políticos
- Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas
- Instituto Vladimir Herzog
- CNTU – Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados
- Rede Mulher de Educação
- Católicas pelo Direito de Decidir
- Rede de Educação Popular entre Mulheres da América Latina e Caribe, coordenação Brasil
- Conselho Indigenista Missionário – Cimi Amazônia Ocidental
- Apijor – Associação Brasileira da Propriedade Intelectual dos Jornalistas
- Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo
- Associação dos Jornalistas Veteranos
- Associação Mulheres pela Paz
- Geledes – Instituto da Mulher Negra
- União de Mulheres de São Paulo
- PACS – Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul
- Aliança RECOS – Redes de Cooperação Comunitária
- Movimento Mulheres pela P@Z!
- Instituto Palavra Aberta
- Artigo 19 Brasil e América do Sul
- Aderson Bussinger Carvalho, Advogados Associados
- Conectas Direitos Humanos
- Acimar – Entidade Nacional dos Civis e Militares
- Oboré – Projetos Especiais em Comunicação e Arte
- Sindimetal/SJC – Sindicato dos Metalúrgicos de são José dos Campos SP
- Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Volta Redonda e Região Sul Fluminense
- Associação de Mulheres Beth Lobo de Volta Redonda e Região Sul Fluminense
- Grupo Tortura Nunca Mais-SP
- Grupo dos Perseguidos e Ex Presos Políticos da Convergência Socialista
- Grupo de Anistiandos dos Correios
- Grupo de Anistiandos dos Químicos de SP
- Grupo de Anistiandos da SABESP-SP
- Grupo de Anistiandos da Receita Federal de Santos –SP
- Associação dos Anistiados Políticos Metalúrgicos da Baixada Santista/SP
- ADMAP – Associação Democrática de Aposentados e Pensionistas do Vale do Paraíba-SP
- ADMAP – Associação Democrática dos Metalúrgicos Aposentados e Pensionistas de São José dos Campos/SP
- AMA-A ABC – Associação dos Metalúrgicos e Anistiados e Anistiandos do ABC/SP
- AAPMBS – Associação de Anistiados Políticos, Aposentados e Pensionistas – SP
- ANAP – Associação de Anistiados Políticos, Aposentados e Pensionistas – SP
- ANAPECT – Associação Nacional de Anistiados Políticos da ECT
- CSC – CONLUTAS
- Comissão de Justiça e Paz de São Paulo
- Fórum Memória Verdade e Justiça do Espírito Santo
- UNIPOP – Universidade de Políticas do Movimento Popular
- MDD – Movimento Democracia Direta
- JSF – Justiça Sem Fronteiras
Pessoas
- Idibal Piveta, advogado
- Aroldo Camillo, advogado
- Domingos Assad Stocco, advogado
- Saulo Gomes, jornalista
- Beatriz Cannabrava, educadora
- Clara Sharf, AMP
- Vera Paiva, professora IP USP
- Walkiria Lobo, secretaria
- Belizário Santos, advogado
- Zelik Trajber, médico
- Audálio Dantas, jornalista
- Luzia Paula Cantal, advogada
- Mané Bahia
- Maria José Braga
- Paula Martins, advogada
- Lindomar Padilha, filósofo especialista em desenvolvimento social no campo
- Hilda Fadiga de Andrade, educadora
- Frederico Ghedini, jornalista
- Amadeo Memolo, advogado e jornalista
- Amyra El Khalili, economista
- Fernanda Pompeo, jornalista
- André Freire, jornalista
- Rose Nogueira, jornalista
- Augusto Portugal
- João Batista Pimentel Neto, jornalista
- Maria José Rosado Nunes
- Benedicta Savi, advogada
- Elza Lobo, jornalista
- Moema Viezer, educadora
- Paulo Cannabrava Filho, jornalista
- Ladislau Dowbor, professor PUC/SP
- Silvio Tendler, cineasta
- Vanessa Silva, jornalista
- Paula Sapir Frebrot, advogada
- Sueli Carneiro, Geledes
- Rafael Custódio
- Maria Aparecida Costa, advogada
- Clarice Herzog
- Albertina Duarte Takiuti, médica
- Ricardo Gaspar, professor PUC/SP
- Manoel Carvalho Neto
- Beatriz Bissio, professora, UFRJ/RJ
- Maria Amélia de Almeida Telles
- Victor Neiva, advogado
- Alfredo de Oliveira Guedes, Anapect
- Ivan Carlos Dias Júnior, professor
- Francisco Fernandes Maia
- Simão Kerimian
- José Xavier Cortez, editor
- Sérgio Gomes, jornalista e editor
- Getúlio Guedes
- Rafael Martinelli
- Patrícia Blanco
- Elisa Gargiulo
- Rogério Sottill
- Marcos Penna S. De Almeida, economista e educador
- Geraldo Majela Pessoa Tardelli, advogado
- Celso Lungaretti, jornalista
- Betinho Duarte, Rede Internacional de Intelectuais,
- Artistas e Movimentos Sociais em Defesa da Humanidade – Capítulo Brasil
- Acilino Ribeiro, professor UNIPOP/DF
- Silvio Campos, SMVR
- Maria Conceição dos Santos
- José Luiz Pinho, AAPMBS
- Vladimir Sacchetta, jornalista
- Antonio Martins, jornalista