Carta do Bola / Exposição de Motivos

Muitas são as razões que podem ser elencadas para homenagear um colega servidor público, que zelosa e criticamente exerceu suas atividades enquanto esteve entre nós. Mas nossa razão é singular e trata-se de homenagear a vida e obra do nosso querido amigo e colega, João Alberto dos Santos Pedroso, mais conhecido como Bola.

Ingressou como servidor público na Universidade Federal de Pelotas, em 04/05/1992, como Assistente em Administração. Atuou na Faculdade de Engenharia Agrícola, no Instituto de Biologia, na Faculdade de Educação, na Pró-Reitoria de Extensão e, por fim, estava lotado no Instituto de Ciências Humanas.

Para além de suas funções de servidor público federal, Bola atuou por longa data no Sindicato dos Servidores da UFPel – Asufpel –, tendo sido Coordenador por três mandatos. Participou de inúmeras iniciativas e mobilizações da classe trabalhadora, e foi fundamental na construção e no fortalecimento das lutas sociais. Iniciou sua trajetória política no início dos anos 1980, no Movimento Estudantil, quando participou ativamente das mobilizações pela redemocratização do país. Atuou também nas lutas do SIMP e na construção do Partido dos Trabalhadores, ao qual foi filiado por longa data. 

Na sua trajetória de sindicalista e lutador social, acumulou amizades e muitas histórias, características simbólicas para um espaço de socialização. Histórias estas que ele compartilhava sempre com um sorriso e com a sabedoria de quem reconhece a importância do afeto e da ternura, mesmo diante de todas as injustiças e das dores que marcam o nosso tempo, pois, como dizia Che Guevara: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás".

Bola foi um cidadão comprometido com o que fazia, tanto no ofício que lhe cabia, quanto na luta política junto com sua classe. Soma-se a isso, ter sido uma pessoa muito ativa e simpática com os colegas em geral, e muito amável com os alunos e alunas. Gostava de conversar e de explicar tudo com os maiores e melhores detalhes, por vezes exigindo-nos uma paciência de escutar em meio aos turbilhões de coisas que nos intimavam. 

Apreciador de bons vinhos e de uma festa dançante, do debate democrático com vista a proposições que criassem possibilidades de resistência com uma boa dose de apaziguamento. Leitor de autores como Eduardo Galeano, que sempre defendeu a utopia como um horizonte que devemos perseguir para provocar um movimento social, em busca de um novo Direito, um "Direito Justo", livre de amarras preestabelecidas; um direito que busca a igualdade entre os povos, a fraternidade e, acima de tudo, a paz social; um direito que renasce a cada dia, de acordo com a conjuntura do momento. 

Nosso querido colega foi mais uma vítima do descaso em relação a esta pandemia, que já vitimou quase 600 mil brasileiros. Infelizmente, nos deixou em 26 de abril de 2021, aos 62 anos, tendo sido o primeiro servidor da ativa na UFPel a falecer pelo vírus. Foi mais uma vítima da covid, mas também da negligência de um governo que vem sistematicamente minimizando a gravidade do momento.

Por estas e outras, e diante da obra de revitalização do Campus Porto que vem sendo realizadas pela UFPEL em parceria com a Prefeitura, propomos à gestão que seja criado o “Largo do Bola” nos arredores da Faculdade de Educação (FaE), do Instituto de Ciências Humanas (ICH) e do Instituto de Filosofia, Sociologia e Política (IFISP), que integram o Campus Porto – último local em que o servidor esteve por fim lotado –, como uma expressão de reconhecimento pelo tanto que fez pela Instituição e, sobretudo, como expressão da sua personalidade junto às pessoas que com ele interagia; pela amabilidade e sociabilidade que sempre agregava.

Nossa proposta fundamenta-se na necessidade de mantermos vivas as memórias. Principalmente, em razão de que, embora estejamos vivendo um dos momentos mais tristes e críticos de nossa história, marcos devem ser estabelecidos para que jamais sejam esquecidos. Neste sentido, entendemos que a criação de um Largo que leve o seu nome representará estas memórias.

Bola representa um cidadão consciente, um servidor exemplar, um lutador aguerrido, um colega fraterno, um ser humano ímpar e também as milhares de vidas perdidas que poderiam ter sido evitadas com mais vacinas e sem negacionismo. Por isso, entendemos que a criação de um Largo que leve o seu nome é também uma justa representação a todas as vítimas.